Entre um Livro e Outro: Minha Mariele

Olá,Hoje no entre um livro e outro,tem mais um conto meu,espero que gostem Beijão

                                        Mariele Liberi


Tinha 14 anos quando nos conhecemos.
Aquela menina de alma doce que apareceu na minha vida quando mais precisei logo me conquistou. 
Ela era o primeiro amigo que tinha na vida.
Não que não quisesse ter muitos amigos,mas nunca tive oportunidade de conhecer mais crianças.
Vivia quase todo o dia enclausurado numa escola para crianças preparadas para crescer na vida.
E mesmo depois de oito anos estudados naquele lugar, num fui muito além que uma mesa confusa e uma cadeira pequena jogada no canto, em que permanecia ali durante oito horas fazendo aquilo para o qual fui preparado.
Não culpo meus pais por terem me enclausurado naquele lugar eles queriam o melhor a mim, mas dei graças quando Mariele chegou.
Antes dela entrar em minha vida, eu era um adolescente que não conseguia interagir com os meninos do internato pois eles eram muito mais do que eu poderia acompanhar,e não conseguia interagir com os meninos da minha pequena cidade,pois eram menos do que eu tinha aprendido a ser.
Assim que nos conhecemos nos víamos cinco vezes na semana,quando escapava das aulas de ensino religioso e ia encontrá-la no jardim da escola,sempre me surpreendia como Mariele conseguia entrar ali com tanta destreza e nunca ter sido descoberta já que a permanência de mulheres ali era estritamente proibida, a não ser aos finais de semanas quando recebíamos visitas ou nas reuniões de mães.
As duas horas que passava com ela eram as melhores do dia,  podia me abrir,contar todos os meus anseios e ela parecia sempre me compreender.
Conversávamos de como a vida podia ser tão mais divertida fora daqueles altos muros. Durante os nossos quatro anos de convivência ela me perguntava sempre antes de se despedir quando iria tomar a decisão dizer o que realmente queria pra mim
Do internato sairia preparado pra fazer um desses exórdios super disputados, passar e me tornar um grande doutor, o sonho dos meus pais, mas no fundo não era isso que eu queria, então sempre antes de dormir, já deitado na cama pensava se a pergunta de sempre de Mariele não fazia pelo menos algum sentido, precisava saber se não era aquilo que eu queria .
A medida que os dias se passavam e me tornava mais decidido que queria algo bem diferente que a escola poderia me oferecer, e as visitas de Mariele se tornavam menos frequente.
No último ano de escola aos dezessete anos,  já devidamente inscrito pelo meu pai no exórdio, tinha decidido que contaria pra eles meus planos e seja lá como fosse a reação deles , agora seriam os meus  planos. Agora Mariele, só aparecia uma vez na semana, e na última vez que ela apareceu contei tudo que planejei, ela prontamente me apoiou.
No dia da formatura, percebi que valeu a pena começar a dar uma chance meus colegas de quarto, e fizemos uma grande amizade, tudo isso depois de muita insistência da Mariele.
E agora ali no último dia senti que sentiria falta de tudo, da escola, dos amigos que depois de muito tempo fiz ali, das aulas que antes achava chata e agora vejo o quanto me ajudaram e principalmente das conversas com Mariele.
Agora aqui na minha mesa confusa, jogada no canto me sinto satisfeito de ter seguido meus planos, com o tempo todos perceberam que o melhor caminho era o que me faria feliz e realizado, cinco anos depois provei pra eles que valeu a pena ter ingressado naquilo que sempre sonhei, até mesmo quando não sabia. 
No mesmo  horário, a tarde, fico pensando no tempo que demorei a descobri que Mariele só existia pra mim, e por isso tinha livre entrada na escola de meninos, ela não era um fantasma como muitos pensavam quando contava algo sobre ela, era só minha consciência tentando me libertar para ser feliz. E mais uma vez Mariele acertou em cheio.  

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